terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Resenha de Pulp, Charles Bukowski


Sinópse: Eis um Bukowski puro-sangue. Legítimo. Concluído alguns meses antes de sua morte, em março de 1994, aos 73 anos.

Não há como sair incólume desta história. A saga de Nick Belane poderia até ser igual a de tantos outros detetives de segunda categoria que perambulam pelas largas ruas de Los Angeles. Mas aqui, mulheres inacreditáveis cruzam pernas compridas e falam aos sussurros, principalmente uma que atende pelo nome de Dona Morte. Como nos velhos livros policiais de papel vagabundo, subliteratura pura, a quem Charles Bukowski dedica solenemente Pulp.

Ele desafia sua história com habilidade de mestre. Um Rabelais percorrendo o mundo noir? A divina sujeira? A maravilhosa sordidez? Um acerto de contas com a arte? Uma homenagem? Uma reflexão sobre o fim da vida? E tomara que a morte estivesse linda, gostosa e sexy – como está nesta história – quando encontrou o velho Buk poucos meses depois de ter posto o ponto final nesta pequena obra-prima.


O livro começa com Nick Belane em seu escritório recebendo a ligação da deliciosa Dona Morte que está desesperadamente atrás de Celine, o maior escritor da França que morreu em 1961, mas que ela ainda continua insistindo estar vivo. Nick tenta convencê-la que Celine está morto, mas de nada adianta.

“– Preciso de Celine – ela disse. – Tenho de conseguir.
Uma voz tão sexy que me excitava, de fato.
– Celine? – eu disse. – Me dê mais alguma informação. Converse comigo, dona. Continue falando...
– Feche o zíper – ela disse.
Baixei o olhar.
– Como sabia?
– Deixa pra lá. Quero Celine.”


Com o desenrolar da história, as coisas só vão ficando mais estranhas. E isso inclui uma alienígena gostosa que controla as pessoas, o Celine da livraria que parece realmente ser o verdadeiro Celine, policiais que praticam extorsão por fotos, sonhos bizarros, a busca pelo paradeiro do Pardal Vermelho e se Cindy Bass realmente trai o marido. E o pior de tudo é como ele próprio se enrola: parece que a cada dois passos que ele dá, os dois são pra trás. Ele vai regredindo cada vez mais que tenta solucionar um caso.

“– Por que não diz alguma coisa, Grovers?
– Ela se chama Jeannie Nitro...
– Fale mais, sr. Grovers.
– Não vai rir de mim como a polícia?
– Ninguém ri como a polícia, sr. Grovers.
– Bem, ela é uma coisona... do espaço sideral.
– Por que quer se livrar de uma coisona?
– Tenho medo dela, controla a minha mente.
– Como assim?
– Tudo que ela manda eu tenho de fazer.
– Vamos dizer que ela mande você comer o seu cocô, você comia?
– Acho que comia...
– Grovers, você apenas levou uma surra de boceta. Tem muito homem assim.”

Nas mulheres, nas brigas inúteis, nos bares estranhos, nas garçonetes e garçons irritantes, nas frases de efeito, nos diálogos pesados (ao mesmo tempo divertidos), nos palavrões, no sexo, nas alucinações, na subliteratura e nas missões inusitadas é possível ver um pouco do reflexo de como Bukowski encarava e levava a vida. O livro é cheio de humor ácido, perversão, porres clássicos, cenas cotidianas e coisas politicamente incorretas. São 175 páginas divididas em 51 capítulos de pura loucura mas que no final fazem um puta sentido.

“– Belane, você ficou maluco?
– Quem sabe? A insanidade é relativa. Quem estabelece a norma?”

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